📍 Caeté Açu (Vale do Capão), Chapada da Diamantina, Bahia 🇧🇷
um sonzinho pra curtir a newsletter.
Faz mais de mês, publiquei nosso último texto.
Contei lá que ia sair pra trabalhar viajando, viajar trabalhando - e nessa mudança na rotina, quem disse que consegui terminar uma mísera publicação?
Atire a primeira pedra quem já não parou uma meta de ano novo.
Até que não fui tão mal, o dia dos desistentes oficial ou “Quitter’s day” como falam nos EUA, é na segunda sexta-feira do ano. Aplicativos como Strava identifcaram que 80% dos usuários param com suas metas nesse dia.
E nem sempre desistir é ruim, como diria Clarice em Paixão Segundo G.H:
… apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano. E só esta é a glória própria de minha condição.A desistência é uma revelação.
Uma hora ou outra todos nós temos que jogar a toalha, saber como e quando fazer isso é que é demonstrar sabedoria, faz parte da arte de viver.
The Dip é um livro que me ajudou a pensar sobre desistir como uma estratégia, nele Seth Godin trouxe uma fala do ultramaratonista Dick Collins que me marcou bastante:
“… Se você está tomando uma decisão com base em como você se sente naquele momento, você provavelmente provavelmente vai tomar a decisão errada.”
Desistir é antes ou depois, mas não durante o desejo de desistir.
Você pode baixar The Dip e mtos outros livros melhores que esse, assim:
Sei lá porquê tô falando tudo isso, não pensei em nenhum momento em parar com a newsletter, então esse texto não tem nada a ver com desistencia, mas com hábitos.
O problema de ter quebrado a corrente da publicação semanal é que não me vejo como alguém que escreve-pra-publicar e também não formei um sistema pra esse trabalho.
Você provavelmente já ouviu falar dos livros “O Poder do Hábito” e “Hábitos Atômicos”. Se não, hoje vou te poupar umas 300 páginas de escrita mediana marketeira com uns parágrafos da minha escrita medíocre.
Formar rotinas
Os três componentes essenciais pra formar um hábito são: Gatilho, Rotina e Recompensa.
Por exemplo, minha pia ta quase sempre limpa, porque atrelei o ato de lavar louça ao de beber café. Toda vez boto a água pra ferver, enquanto espero, lavo a louça.
O gatilho é botar a água pra ferver, a rotina é lavar a louça e a recompensa é beber o cafécinho.
Se você tira a base, tudo se desmorona tipo num jogo de Jenga - como quando usei cafeteira automática em um airbnb e deixei a louça acumular por dois dias seguidos.
Pra firmar o hábito é preciso repetir muitas vezes as novas atividades, fortalecer as conexões das sinapses até que o cérebro registre que não é apenas um auto-flagelo desnecessário (como geralmente as pessoas se sentem no retiro vipassana enquanto estão lá no processo), mas que sim há recompensas pela frente.
O autor japonês Murakami corre maratonas há mais de década e admite, em seu livro What I Talk About When I Talk About Running, que ainda sente uma preguicinha antes de treinar. A humilhação do “fazer coisa difícil” parece inevitável, seja você um expert ou não, mas ele diz assim:
Certos processos não admitem variações. Se você precisa fazer parte do processo, apenas transforme – ou talvez distorça – a si mesmo por meio da repetição constante, tornando o processo parte de sua própria personalidade.
Grandes empresas pensam nisso pra fazer com que a gente incorpore seus produtos e serviços no dia-a-dia. Eles distorcerem nossos valores e personalidade através de propagandas incessantes com músicas, frases de efeito, imagens impactantes…
Além disso, tem a própria versão deles pra criar um hábito que se chama modelo gancho, que tem quatro fases:
Gatilho: O ponto de partida que desencadeia um comportamento, um estímulo externo como sons, imagens, e-mails, lembretes e notificações que direcionam ações específicas. O objetivo do gatilho é instigar uma ação.
Ação: Algo simples como clicar em um link assim que aparece a notificação ou abrir uma embalagem, sem fricção, tarefa que, de preferência, gere um pequeno prazer instantâneo.
Recompensa Variável: A recompensa que segue vem de prontidão, rapidinha, e é variável: pode ser um like, um comentário, pode ser um M&M azul ou rosa. Essa imprevisibilidade torna o ciclo do gancho mais viciante.
Investimento: Vamos supor que o usuário tenha se cadastrado no site, ele dedicou tempo e esforço para inserir suas informações ali. Esse processo estabelece vínculos mais sólidos com a empresa e aumenta a probabilidade de repetir o ciclo de engajamento, ou seja, voltar lá para ver o perfil, comprar no site, etc. Outros exemplos de investimento são:
conhecer o dono da loja,
fechar um plano anual,
saber receitas com o produto,
ter amigos que vão no mesmo local,
criar listas de favoritos,
seguir pessoas famosas em uma rede,
aprenda novos recursos da plataforma…
Voltando na questão newsletter, até pensei em colocar como recompensa comer alguma coisa gostosa depois de publicar ou como recompensa variável ver os últimos vídeos indicados pra mim no youtube, mas é preciso muito cuidado ao montar rotinas em cima de drogas como café, açúcar, cigarro, comprinhas, rodar a timeline… depois é difícil de se desfazer delas.
Por enquanto, deixo a recompensa ser a social mesmo, algumas pessoas vem conversar sobre meus textos depois que publico e é um prazer disseminar coisa que me interessa, descobrir pessoas com mesmos gostos...
Só que pra manter o mínimo de respeito próprio, manter minha palavra de constância e também não morrer de ansiedade pensando se vou passar vergonha frente a pelo menos 100 pessoas que tem lido as palavras que junto aqui na esperança de me comunicar, cheguei a conclusão de que tenho que variar os assuntos.
Mudanças na newsletter
Fico empacada quando penso em publicar só sobre yoga, quero sempre um texto complexo e com muitas referências. Assim ta um pouco difícil de sequer consolidar o hábito de editar-publicar.
Então preciso testar outras estratégias, publicar assuntos diversos, fazer a coisa tomar forma pra desenvolver ainda não sei o quê.
Troquei o nome da newsletter pra “Começo na segunda” e vou manter o “Ritual Místico de Cura” pra falar de yoga sobre contextos diversos, mas terão mais quadros: de início o “Diário de bordo” pra falar da viagem que tô fazendo e o “Vitamina Matinal” pra falar de produtividade, alimentação, exercícios e afins - por exemplo, essa edição aqui foi pra falar estratégias para montar um novo hábito, mas já dei sinais que gostava desse tópico lá no ritual 2, quando fui uma anti-coah de planejamentos, talvez.
Sei que alguns de vocês vão pular fora do barco agora, mas tenho certeza que outros ficarão: eu mesma sigo gente esquisitinha em cantos obscuros da internet, adoro.
Pra quem fica, enxergue esse espaço como aquela conversa da Hebe que vai retomando assuntos antigos em ordem aleatória, e também como uma vendinha de uma esquina qualquer: ta sempre lá e tem variedade.
Aqui não é um oxxo (ocho) com banners gigantes de cores gritantes tentando te atrair pra comprar algo. Venha só quando precisar ver umas quinquilharias, bater uma fofoquinha, pedir informação local… fico feliz.
Coisas Bacanas
Sessão nova, meio padrão de newsletters, indicações da semana:
O Pinterest do Ted do “Art of photography” tem boards separados por fotógrafos, é uma delícia perder um tempo ali.
Pra quem curte o mundo do yoga e ta gostando dos meus textos sobre o assunto, o Yogic Studies tem um módulo gratuíto bem bacana: Visual and Material Evidence of Medieval Yoga and Yogis
Por fim e o mais importante: essa barraca maravilhosa da azteq que tenho usado na viagem - é mega fácil de montar, muito leve e parece que vc ta na natureza só que com uma redinha contra mosquitos, tipo eu lendo meu kindlezinho num pontinho qualquer da chapada da diamantina no último final de semana 🥲:
é isso, mig, té semana que vem :)
Baita post! Depois que li o Power of Rabbits (hue) também comecei a usar a recompensa como ferramenta para me induzir ao comportamento que eu queria. Mas muitas vezes, sabendo o que eu estava fazendo comigo mesmo eu boicoto. #noshame
Para contribuir, o que percebi que funciona melhor foi definir protocolos. Eles tem gatilhos também, mas sem recompensa. Por exemplo, quando eu volto do passeio dos dogs, pronuncio em voz alta "sempre pendure a guia no porta-chave". Antes eu jogava em qualquer lugar da sala a guia, e hoje já se tornou um comportamento instalado.
Mas teve um que foi "antes de dormir, lave a louça" que não rolou. Haha