📍 Caeté Açu (Vale do Capão), Chapada da Diamantina, Bahia 🇧🇷
Assinantes smart fit em São Paulo sabem: é perfeitamente normal entrar e sair da academia sem olhar na cara de ninguém.
Pra quem vem de cidade pequena até entendo que, de início, pode ser libertador não revezar aparelho com o filho-do-dono-da-padaria-que-traiu-sua-prima, mas depois de uns 2 anos chega a ser constrangedor não ter com quem bater uma fofoca entre as repetições.
Por outro lado, a gente sabe quem são os smart fitters das nossas redes sociais.
São de outras unidades, mas são dos nossos, inclusive mais dos nossos do que quem realmente derruba suor no eliptico ao lado, religiosamente ás 17:45 em frente a TV passando “A vida é irada” no canal off.
Na capital, logo onde tem mais concentração de pessoa por metro quadrado, parece preciso uma disposição maior pra interagir com quem ta no mesmo espaço-tempo que a gente.
Outro dia vi o filme argentino “los delincuentes”, tem uma cena em que o povo ta numa cachoeira, passa um moço entre eles e a galera puxa assunto. Olham ele passar e trocam palavras. Conversam com um desconhecido, só porque ele esta no mesmo local.
Não se passou na cabeça de ninguém que seria meio estranho trocar ideia do nada. Eles tinham algo em comum: a disposição de ir ali curtir aquela cachu, que coincidência (!), natural conversar com quem tem coisa em comum. Por que na smart fit não pode ser assim?
De início, achei que era coisa dos anos 90 - época em que se passa o filme - não tinha celular, nem AirPods, o jeito era estar presente. Só que a gente sabe que é mito isso ai:
Acho que o problema é a cidade grande mesmo, outro ritmo.
A urbe é foda, você vê alguém com lookinho legal e não para pra falar com a pessoa, mas vai no tiktok procurar pela trend “Street Style NYC”, checar as marcas e tendências.
No filme, por exemplo, eles trocam informação sobre o horário do ônibus, coisa normal aqui no interior da Bahia onde estou, mas em São Paulo era mais fácil checar no celular.
Agora fui relembrada que não é coisa de filme, mas completamente comum botar em prática essa técnica ancestral de comunicação: falar qualquer coisa para conhecer alguém, principalmente se ela tem coisas em comum com você como frequentar os mesmos lugares.
Não tem nada demais, não é mal educado e muito menos inconveniente, estou aqui de luto por todos os amigos que não fiz na Smart Fit. Ou não.
Diário de Bordo
Enfim, deixa eu te contar o que fiz nesse primeiro mês de viagem.
Primeiro, vim de carro de sampa até aqui, eu, Gabi, Lua e Jupiter - os dois cachorros do Gabi. Fizemos duas paradas, Montes Claros em Minas Gerais, nada de especial, e Candiba, ponto alto, ficamos num airbnb incrível:
Pagamos mico de sudestino no primeiro momento, quando a host ofereceu preparar um jantar, perguntou o que queríamos, e dissemos que qualquer comida mineirinha estava ótimo - acontece que Candiba já é na Bahia rs
Devíamos ter percebido logo pela estrada, em Minas a fama condiz com a realidade, as estradas são um lixo, esburacadas, mal sinalizadas…
É cruzar fronteira pra Bahia que o asfalto fica bom, incrível. Só que aqui no Vale do Capão, lugar onde estou na Chapada, é estrada de terra raíz. O EcoSport da conta, mas parece que o Uninho é a preferência local, o carro mais apropriado pra situação.
Nosso airbnb atual é perfeito, lindíssimo, até fechamos mais um mês bem no esqueminha gato da alice: pra quem não sabe pra onde esta indo, qualquer lugar serve.
As três principais trilhas que fomos aqui na região de caeté-açú foram:
Cachoeira da Fumaça;
Cachoeira Fadas e Doendes;
Trilha das Águas Claras.
Fizemos duas vezes cada, porque agora no fim do mês recebemos visitas - meu irmão, uma amigona minha e um amigo do Gabi - e queríamos mostrar pra elas as que mais gostamos.
Alguns trechos de trilhas difíceis, logística de viagem em grupo, pessoas que não se conhecem, eu e Gabi também nos reconhecendo novamente depois de anos… Rolaram algumas tensões, mas saímos todos ilesos, a grandeza da natureza é marcante demais, a lembrança maior de todas. Foi muito bom estar longe de casa, mas ter por perto pessoas que me dão a sensação de lar.
Agora um review das cachus:
Cachoeira da Fumaça
Nível fácil - 2 horas e meia de trilha - Strava parte plana - Strava decida
Uma puta pirambeira. Pelo menos uma hora de subida intensa e depois uma planície aberta. Não tem um lugar massa pra nadar, só alguns pontinhos do rio, mas é depois de uma subida tão intensa, qualquer aguinha ali ta ótimo.
Lá no alto a gente vê a cachoeira cair, dizem que é a segunda maior do Brasil e vale muito a pena de ir mesmo quando esta seca, porque, se tiver coragem, da pra andar onde a água desemboca e aproveitar uma vista totalmente diferente:
Mas o ponto forte mesmo é quando ela esta cheia:
Cachoeira Fadas e Doendes
Nível médio/difícil - 2 horas e meia de trilha - Strava ida - Strava volta
Trilha fechadinha, sem aquele solzão na fuça. No caminho passamos pela cachoeira da angélica e a da purificação, que são as mais visitadas. Fadas e doendes é um pouco mais complicado de chegar, mas é um poço muito gracinha.
Na volta, ao invés de fazer o mesmo caminho, subimos até Gerais, que é uma parte da trilha do Paty - até lá tem um tanto de pula-pedra ao longo do rio, alguns poços pra nadar, um escorregador natural de pedras e a vista é bem massa:
Águas Claras
Nível fácil - 2 horas e meia de trilha - Strava
Minha preferida até agora, a trilha tem uma vista linda e no geral é plana. As tais das “águas claras” são umas piscinas naturais, parece um jardinzinho mágico.
Outro dia eu e Gabi acampamos lá por dois dias com os cachorros e foi muito delícia, queremos fazer isso de novo pra subir e descer o morrão qualquer hora.
Todas essas que falei tem variações e outras sub-trilhas no caminho. Além delas, fizemos outras menores aqui pela região, também outras mais distantes de caeté-açu/capão, mas pra newsletter de hoje já deu pra ter um gostinho de como é por aqui :)
Logo eu que amo turistar grandes cidades, ver prédios altos… tô esbasbacada com a imensidão do paraíso natural, fazia tempo que não me permitia isso.
No filme delinquentes mostra uns takes muito massa que também retrata essa pequenez do ser humano em contraposição com a cidade e com a natureza, mto bom 10/10, recomendo mesmo.
Coisas Bacanas
Essa extensão marravilhosa do stremio tem tudo quanto é tipo de filme - inclusive os do MUBI e Los Delinquentes ;)
Tô lendo o livro “A arte de produzir efeito sem causa” do Lourenço Mutarelli - primeiro que pego dele, tô amando a escrita.
Numa conversa aleatória com minha amiga aqui lembrei dessa maravilhosa performance de “Aline!” no show do Paramore - amo a energia desse vídeo.
E por hoje é só!
Obrigada por ler e até mais :)
eu amo esse texto porque a introdução fala MUITO sobre você, pq na metade fala da chapada perfeitinha e no fim tem o video da fã doida e talentosa